Hipotiroidismo – causas, sintomas e tratamentos

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O hipotiroidismo é a tradução do mau funcionamento da tiróide, ou seja, a produção insuficiente de hormona tiroideia. A tiróide é uma glândula localizada na base do pescoço, que produz as hormonas T3 e T4 (tri-iodotironina e tiroxina, respetivamente). Estas hormonas regulam o funcionamento de vários órgãos e sistemas, desde o sistema cardiovascular ao nervoso, do aparelho digestivo ao reprodutor, o crescimento, o peso e metabolismo, a pele e faneras. Tanto a diminuição como o aumento da produção de hormonas tiroideias, têm impacto em todos estes sistemas.

Relembrando a fisiologia, o hipotiroidismo pode ser primário, muitíssimo mais frequente, ou secundário. No primeiro caso, a diminuição de produção de hormonas tem origem em doenças da própria tiróide. No segundo, o hipotiroidismo decorre do mau funcionamento da hipófise, ou seja, na deficiência de TSH. Por isso, a definição laboratorial baseia-se no valor da TSH, a hormona produzida pela hipófise que estimula a função tiroideia. Se estiver elevada, significa que a produção tiroideia é insuficiente, ou seja que há hipotiroidismo. Existe um estadio intermédio, em que à custa da TSH estar elevada, a tiróide doente é mais estimulada e ainda consegue produzir uma quantidade de T4 normal. É uma forma menos grave de hipotiroidismo, o hipotiroidismo subclínico.

É uma entidade frequente. A prevalência aponta para um valor de 4,9% atingindo preferencialmente a população feminina, mais especificamente, 3 mulheres para 1 homem.

No mundo ocidental, a causa mais frequente de hipotiroidismo na população adulta é a tiroidite autoimune (Tiroidite de Hashimoto). O organismo produz anticorpos contra a própria tiroide, destruindo as células e reduzindo gradualmente a capacidade para esta produzir hormonas. A prevalência de pelo menos um anticorpo anti-tiroideu positivo na população portuguesa é de 18,9%. Outras causas possíveis são a deficiência severa de iodo ou as sequelas do tratamento com iodo radioativo ou de cirurgias para tratar hipertiroidismo, doença nodular ou cancro da tiróide. Na população pediátrica, também temos a considerar as agenesias tiroideias ou os defeitos da organogénese da tiróide.

Quais os sintomas?

Os sintomas são inespecíficos, facilmente confundidos com outras entidades. Inicialmente, a doença pode ser completamente silenciosa. Com o agravamento surgem sinais e sintomas inespecíficos. A pessoa sente-se sem energia física e mental. Pode apresentar-se, do ponto de vista anímico, cansada, sonolenta, com falta de memória, apática e triste. As hormonas tiroideias potenciam a ação de outras hormonas relacionadas com os circuitos do humor, como a serotonina ou a noradrenalina, que são os alvos dos antidepressivos utilizados mais frequentemente, por isso a relação entre hipotiroidismo e depressão não é de estranhar. Fisicamente, pode queixar-se de obstipação, edema, aumento de peso, intolerância ao frio, queda de cabelo ou pele muito seca. Em casos mais graves, pode haver dores e fraqueza muscular, hipertensão, bradicardia, derrame pericárdico, pleural ou ascite.

Perante a suspeita, o médico pode requisitar testes bioquímicos para avaliar a função tiroideia e dissipar dúvidas. Quando há hipotiroidismo primário encontramos um valor T4 mais baixo e a produção de TSH está aumentada, uma vez que a hipófise está a tentar compensar o mau funcionamento da tiroide. Se for hipotiroidismo subclínico a T4 ainda estará normal. No hipotiroidismo secundário, as análises mostrarão uma T4 e TSH baixas.

Feito o diagnóstico de hipotiroidismo há que pesquisar a sua causa, doseando os anticorpos antitiroideus e realizando ecografia. No entanto, independentemente da causa, deve avançar-se de imediato para o tratamento, sendo comum a todas as etiologias.

Qual o tratamento a seguir?

O tratamento recomendado em todas as formas de hipotiroidismo clínico é a levotiroxina, o análogo sintético da T4. É barato, eficaz e cómodo para o doente, uma vez que é a administrada por via oral. Existem alternativas, como os tratamentos mistos com T3 e T4. Ainda que possam ser defendidas em situações muito pontuais, não provaram ter uma eficácia superior à do tratamento com levotiroxina isolada, pelo que em países como o nosso, a T3 nem está comercializada.

Já as indicações para tratar o hipotiroidismo subclínico são menos lineares. Tratar ou não, depende da idade do doente, das patologias associadas, do valor da TSH, dos sinais e sintomas, da presença de anticorpos ou existência de alterações ecográficas.

Regra geral, o doente fica compensado com a medicação, mas deve ficar sob vigilância médica, pois podem ser necessários ajustes de dose ao longo do tempo. Associações de fármacos tão comuns como inibidores da acidez gástrica, cálcio ou ferro, podem alterar as necessidades de levotiroxina.

Apesar da prevalência e do tratamento simples e acessível, o rastreio universal de hipotiroidismo continua a ser controverso. Em termos genéricos, os rastreios justificam-se quando as patologias são frequentes e lhes podemos responder com tratamento fácil e eficaz, tendo que haver uma boa relação custo-benefício. Este assunto é muito pertinente em relação à situação das mulheres grávidas em Portugal.

O hipotiroidismo na mulher grávida

Internacionalmente, estima-se que cerca de 3% das mulheres grávidas tenham hipotiroidimo, ainda que a maioria (80%) na forma subclínica. Mais frequente é a presença de autoimunidade tiroideia, 10 a 15%. O hipotiroidismo afeta o decurso da gravidez, a saúde da grávida e do feto. Relaciona-se com maior taxa de abortamentos e partos pré-termo, mais diabetes gestacional e pre-eclâmpsia, bócio materno, bebés leves e grandes para a idade gestacional, com mais sepsis, anemia e complicações respiratórias, bem como com atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo. Mesmo no hipotiroidismo subclínico, foi provada a existência de complicações, sobretudo se houver anticorpos antitiroideus positivos.  O tratamento com levotiroxina é simples, barato e eficaz na normalização da TSH. O que ainda não foi provado, é que melhore as complicações nas formas ligeiras, nomeadamente as relacionadas com o desenvolvimento cognitivo da criança. Ou seja, os estudos que foram desenhados para o provar, não foram eficazes, segundo os críticos, porque o tratamento com levotiroxina foi iniciado demasiado tarde. Não há ainda consenso em Portugal quanto a um rastreio universal, embora se reconheça a importância do bom funcionamento da tiróide antes, durante e após a gravidez. A tiróide tem um esforço acrescido durante a gravidez.

Em regiões como a nossa, onde foi constatada a existência de deficiência ligeira a moderada de iodo, o organismo das mulheres pode não ter capacidade para se adaptar às exigências de uma gestação. Mesmo as que não tenham hipotiroidismo prévio à conceção podem vir a desenvolvê-lo durante a gravidez. Esta constatação de que somos uma população iodo-carente, justificou a implementação de uma orientação da Direção Geral de Saúde, que recomenda a suplementação iodada na pré-conceção, gravidez e período de aleitamento materno exclusivo. Excluem-se as mulheres com hipotiroidismo diagnosticado e tratado previamente e aquelas que tenham anticorpos antitiroideus positivos, porque nestas, a suplementação iodada pode ser deletéria.

Este facto pode justificar um rastreio universal neste subgrupo que é a população de mulheres em idade fértil. Mais do que o tratamento precoce do hipotiroidismo, está em causa não suplementar com iodo as mulheres que têm autoimunidade tiroideia.

Revisão Científica: Dra. Cláudia Freitas, Médica Endocrinologista

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